quinta-feira, outubro 31, 2013

Um Brinde

Eis que ergo minha taça a Mãe Justiça, que há muito se esqueceu dos filhos que neste mundo vivem, para aproveitar as férias que se deu ao lado do Senhor Respeito. 
Quem há de se importar com tanta ignorância quando três palavras sem sentimento algum, embora dotadas de grande importância, modificam o falso humor que carregamos como máscaras? 
Eis que "Favor", "Amor" e "Perdão" receberam os apelidos de "Dívida", "Desejo" e "Obrigação". Ah! Como há de sofrer um Sonhador sem escudo e espada para se defender em uma batalha com Foices, Coices e Orgulho demais. 
Um brinde a Majestade Vida, que perdeu o juízo de tanto se reproduzir, mas paga com a mesma moeda quando notada a sua falta de Fé. Quando digo Fé, não me refiro a rezar para um Deus ou cantar algo em agradecimento ao Inexplicável. A falta de Fé que me refiro, é a sede por Ser Eu, que acabou me tirando a Verdade e já me fez esquecer totalmente o objetivo central deste humilde gole de vinho em uma taça de cristal”, Lord Thomil de Sendrak. 

Tëlloner, O Louco em: Coroa de Loucos


[...]- Não ataque! - Insistiu o escudeiro.
- Se eu não atacar, serei atacado! - Retrucou Tëlloner.
- Não importa. - Respondeu o escudeiro. - Atacar não é atitude de um Rei, Tëlloner. Os Reis protegem seu povo. Os reis defendem suas muralhas. Os Reis dão a vida pelos seus súditos. 
- Então quem é que ataca? - Perguntou O Louco.
- Os fracos! - Respondeu o escudeiro. - Os fracos atacam, mentem e julgam. Dizem que você errou, contam histórias e te agridem. São alquebrados demais para se defenderem e testilham contra vós. O homem é forte quando mostra sua defesa! Quando exibe seu ataque, demonstra estar com medo, incompetência em proteger seus súditos e sua necessidade de ter algo que você, abatido e sozinho, nunca poderá ter.

Aquelas palavras fizeram com que Tëlloner refletisse seus últimos atos com a Coroa de Onnehera. A raiva havia tomado posse de sua cabeça, mas seu coração o movera. O Louco abaixou a espada e se virara, como se fosse embora. Acreditando ser o momento perfeito para atacá-lo desprotegido, o escudeiro avançou com a espada reta ao encontro das costas de Tëlloner. O giro acontecera de forma tão rápida que o barulho das lâminas se encontrando chamou a atenção dos guardas que protegiam o pátio. Um leve arranhão surgira na armadura d'O Louco, que girou o punho, virando a espada do escudeiro para fora, antes de acertá-lo no pescoço. 

- Não é de defesa que meus súditos precisam, é de esperança! - Trovejou ele. - Eles precisam crer que seu Rei será forte o bastante para erguer seu escudo contra os inimigos e fraco para descer a lâmina na cabeça deles depois. Um Rei debilitado ataca. Um rei vigoroso defende. Um bom rei, um homem que protege, ama e luta por seu povo e seu reino precisa ser insano!
- Loucura! - Gritou o escudeiro.
- Essa sim é a coroa de um bom rei. Um desatinado! - Finalizou Tëlloner, jogando a espada de treinos para o lado, antes de deixar o pátio.[...]

Acusa-me

Tola,

        Acusa-me de tê-la enganado, sendo que nunca lhe fiz promessa alguma. 
          Acusa-me de tê-la enfeitiçado, mas nunca dei-te meu amor. 
            Acusa-me de tê-la usado, mas não fui eu quem as vestes lhe tirou. 
          Acusa-me de tê-la iludido, mas nunca disse que seria bom. 
        Acusa-me de tê-la deixado, mas foi você quem fez as malas. 
          Acusa-me de tê-la traído, mas você é quem disse "acabou". 
            Acusa-me de tê-la deixado só, mas foi você quem se escondeu. 
          Acusa-me de ser um monstro, mas você é quem me fez assim. 
        Acusa-me de tê-la matado, mas eu lhe dei a opção de ser minha ou de mais ninguém. 

Acusa-me tanto, pequena morta, que me matei também.

segunda-feira, outubro 28, 2013

Amélia & Ambrósio, Por toda a minha vida - O que é amor?


- Xeque. - Avisou Charles. - E lá vai você me devendo mais uma garrafa de whisky.
- Ora, cale-se. - Bufei, sorrindo para o tabuleiro.
Charles era meu amigo desde os quinze anos. Nunca me abandonou e sempre batalhei para que ficássemos próximos. Foi padrinho do meu casamento e do meu primeiro filho. Ele, mais do que ninguém, me conhece tão bem. Posso afirmar que ele sabe de segredos jamais descobertos por Amélia. Segredos bobos ou sem importância que precisei compartilhar com alguém, embora hoje não me afetassem em nada. Embora fossemos tão próximos, ele não era minha única companhia nas tardes de domingo. Filipe ficava comigo. Meu único neto, até então. Filipe tinha quatro anos e não se sentia nem um pouco interessado com a partida de xadrez. Dessa forma, ele se ocupava com algumas folhas de papel e lápis coloridos.
- Muito bem. - Parabenizou Charles. - Até que enfim notou que os cavalos são os mais valiosos do xadrez.
- Não fale besteira, Charles. - Retruquei, cruzando meus braços. - Os bispos são os mais importantes, depois da Rainha.
- Bah! Mulheres não prestam para guerras. - Zombou Charles, movendo uma peça. - Elas ficam em casa rezando por nós.
- Mulheres não prestam só para cuidar da casa e manter as orações em dia, meu amigo. - Respondi, sacrificando meu bispo. - Servem para nos dar amor, também.
- Não seja idiota. - Zombou Charles, comendo meu bispo com o cavalo dele. - Xeque.
- O que é amor? - Perguntou Filipe.
Charles encarou o garoto e me olhou com cara de quem devesse contar uma mentira. Eu não sabia o que dizer. Amor era complicado demais para definir de uma maneira que um garoto de quatro anos entendesse. Pensei em fazer alguma comparação com algum daqueles desenhos que ele assistia na televisão ou com o carinho que ele sentia pelos pais dele, mas Charles o envenenara.
- Amor é o nome que se dá para uma coleção de decepções, meu caro. - Respondeu Charles. - Não ame. Não vai sofrer.
- Amor é algo bom que sentimos pelos outros. - Retruquei, elevando minha voz. - E que precisamos sentir sempre. 
Charles abriu a boca para me retrucar ou lançar mais algum típico argumento de um homem que nunca deu chances para o amor, após um fracasso, quando o interrompi.
- Xeque mate. - Anunciei, após comer o cavalo dele com o meu segundo bispo, cercando o rei dele com minha rainha, torre e bispo.

Criando Lordes

E quando a voz única se ergue contra uma maioria desorientada, os fracos entram em pânico e os fortes pedem clemência, Lorde Thomil de Sendrak.

Tëlloner, O Louco em: Inútil e Feliz


- No que tanto pensa? - Perguntou Eyrie.
- Em ser feliz. - Respondeu Tëlloner. - Pensei muito nisso. Pensei em correr nu pela muralha, pensei em mijar em um Filho do sol, quero comer carne de pneik. Eu pensei em muitas coisas.
- Coisas inúteis, imorais e sem sentido algum, Tëll? - Perguntou a dançarina, confusa.
- Coisas bobas e que talvez não me valham nada. Mas, que me façam dizer "eu fiz" daqui alguns anos. Eu não preciso conhecer tudo para ter vivido bem. Preciso ter usado o inútil. Só assim vou diferenciar o certo de feliz. - Respondeu ele. - E eu serei muito feliz.
- Ou louco. - Ela brincou.

Bebendo o trago de um desabafo


- Eu preciso fumar. - Gritei. Eu precisava sair daquela sala o quanto antes.
- Acalme-se, sente e vamos tentar de novo. - Pediu o doutor. - Quem era ela?
- Meu amor. - Respondi no mesmo instante, deitando-me na poltrona, me sentando em seguida e voltando a deitar. - Um fantasma. - Acendi outro cigarro.
O silêncio tomou conta da pequena sala da clínica psiquiátrica, enquanto eu tragava o mais rápido que podia, sem dar valor para a fumaça que subia em espiral. Sem dar valor para ela.
- E ela te fez algum mal? - Perguntou o doutor.
- Ela nunca me fez bem. - Respondi, sentado, mais uma vez. - Mas eu precisava da maldade dela, para não ser mau com os outros.
- Defina "ser mau com os outros" - Pediu o doutor, cruzando os braços.
Eu odiava quando ele me encarava daquela forma. Eu odiava aquelas perguntas e nenhuma solução. O que eu tinha? Ele tinha que me responder! Só me dava remédios, remédios e mais remédios. Quando me acostumava, trocava o medicamento. Quando eu esquecia, me internava e me davam sedativos. Eu queria matá-lo. Mas quem queria morrer era eu. Traguei, traguei, traguei de novo e comecei a chorar.
- Defina "ser mau com os outros" para mim, por favor. - Pediu o doutor, mais uma vez para mim.
- Ser mau com os outros... Culpá-los... - Respondi, antes de limpar o nariz. - Acusá-los de toda a minha desgraça. Esses vermes... Esses sentimentos... Esse amor! Que merda é essa? Eu não preciso disso tudo, doutor. Eu sou normal!
- Ninguém disse que não era. - Respondeu ele, com aquela voz típica de um babaca. - Apenas acho que está tendo outra crise depressiva. Ela te deixou há dois dias e você já quer se matar.
- Ela não me deixou. - Respondi. - Ela só não me perdoou, doutor.
- E qual é o problema então? Ela ainda está com você. - Respondeu ele. 
- Eu também não me perdoei. - Respondi.
Eu precisava tragar mais. Eu queria mais cigarros. Eu queria mais café. Eu queria saber que merda era aquela? Por que passar por tudo isso se ela ainda estava comigo? "Eu te odeio". Ela me ama. "Você não vai mudar". Eu traguei mais uma vez.

sexta-feira, outubro 25, 2013

Meu Tennessee


Já parou pra pensar que não tem mais volta? Você conseguiu conquistar o melhor lugar na platéia de meus shows. Eu sei que sou chato e que minhas poesias estilo Willie Nelson não são como as que você gostava de ler. Chego a ser tão romântico que transformo um Alan Jackson em uma figura bizarra de amor. Eu só quero que você entenda, meu Tennessee. Entenda que quando grito como Tate Stevens, só quero chamar a sua atenção. Mostrar que o que eu sinto por você é muito maior que o amor que Dolly Parton chora aos seus fãs. Ah! Quem me dera conseguir te mostrar essa estrada, Tennessee... Quem me dera conseguir te convencer que não sou mais um Elvis Presley carente e topetudo, mas que sou o dono daquela velha caminhonete laranja que está ligada na frente da sua casa há uma hora, tocando músicas de Shania Twain, enquanto esperava você decidir se vem comigo. Ei... Meu Tennessee... Quando escrevo que sofro de amor, quero dizer em forma de Waylon Jennings que não esqueci de nenhum minuto que passei com você. Não estou sofrendo. Estou lembrando. Estou tocando meu bandolim enquanto sonho com você. Venha... Tennessee, venha comigo! Eu vou te levar pelas estradas alucinantes de George Jones. Vou te mostrar que a vida é uma festa, mas que funciona com a mistura de três coisas: seu sorriso, nosso amor e uma doce canção de Hank Williams. Mas, ei! Não será eterno. Sei que um dia partiremos, sós. Mas, quando isso acontecer, que seja como She is Gone. Porque minha vida nunca será a mesma.

Venha comigo, meu Tennessee.

– Eu te amo. 

Amélia & Ambrósio, Por toda a minha vida - Estrela no olhar


- Só estava olhando. - Anunciei - Eu não consigo ver o brilho de uma estrela se quer! 
- Ora, Ambrósio... O sol está se pondo! - Respondeu Amélia, encarando o céu alaranjado escuro. - Ainda não é hora de estrelas, meu amor.
- Elas sempre estiveram ai, Amélia. - Respondi, agora encarando os olhos castanhos dela. - Elas sempre me observaram... Iluminaram meu caminho... Dia e noite...
- Então, está falando do sol? - Perguntou ela. 
- Não... - Sussurrei. - Dos seus olhos, meu amor.

Imaginável Mundo - Ondolë

[...] - Peço apenas que entendas meu objetivo principal: mostrar-lhes quão inútil é ter tudo e não ser ninguém. Podes andar entre os mais ricos, seres o mais requisitado em festas populares, ocupares as primeiras páginas dos jornais ou receberes as chaves de todas as cidades do mundo. Podes colocar quantas e quaisquer coroas em tua cabeça, mas enquanto não usar o que há dentro desta, continuarás sendo sempre mais um enfeite bonito para a sociedade dos tolos. Agora que mostrei quão inútil és tuas riquezas para mim, posso dizer que sou um notável estrangeiro aqui e que de seus favores não sinto necessidade. Outrora haverá de pensar que se andas pelas ruas escuras é porque não acenderam os lampiões ou porque és tolo o bastante para não ver que é dia. Oh! Quanta indelicadeza de minha parte! Lord Thomil da casa Sendrak de Ondolë. Um simples oráculo fofoqueiro e espião. Posso lhe servir o chá? [...]

Peixe Negro em Águas Claras

Como lágrimas de um anjo, 
mergulhei em tuas águas.
- Doce, salgada, pura e dopada.

Encontrei-te em um abismo, 
escondida entre as algas,

- Insana, demente, doce e malvada.

Empurrei-lhe a morte,
com uma calma palmada.

- Chorona, doce, iludida e amada.

Teu corpo descia,
cheio de lágrima.

- Mimada, maluca, solitária e doce.

Olhei-te afundar esquecida entre as algas,
morta, sem vida, sozinha, acabada.

- Doce, doce, doce e assassinada.

quinta-feira, outubro 24, 2013

Enlouquecendo Heyck - Papiro da Harpia

A escuridão escondia o vento forte que trazia a chuva. Eu estava só e com medo, mas não havia saída: eu tinha que continuar. Há poucas milhas de meu destino final, a morte, fui lavado pela fria lágrima da noite. Havia algo naquela chuva. Havia dor. Eu sentia a tristeza do mundo escorrendo pelo meu rosto conforme combatia distâncias. Não, não consigo explicar porque a noite chorava tanto. Não sei dizer se foi eu ou foi você quem causou essa tristeza na noite. Mas, ela chorava. Ela sentia a dor do mundo. Ela me molhava com suas lágrimas solitárias e tentava me explicar. Ajoelhei-me e gritei aos céus para que me ouvisse. Gritei. "Eis-me aqui! Seu servo! Dê-me o seu problema! Entregue-me sua dor!". E quando o raio iluminou o alto dos céus, clareando tudo como se fosse dia e acertando-me direto na língua, pude ver o que havia feito. As mentiras ditas. As grosserias. As maldades e crueldade que eu havia falado. O veneno que eu cuspira. Aquele raio partiu-me a língua em duas partes. A chuva parou. A noite brilhou em estrelas. Eu tirara o peso da noite. Eu carregara a cruz da noite. A cruz que eu mesmo havia construído e dado a ela. Eu engolira meu próprio veneno e me afogara nas últimas gotas de chuva. E só então eu percebi que tudo o que eu precisava dizer para a noite era "Desculpa. Me perdoe", e ela me faria gozar de sua alegria. Sem estrelas. Sem lua. Sem chuva. Sem noite. Sem meu veneno. Sem eu para continuar a destruir a vida. Lágrimas cruéis... Ainda choro-as. Malditas lágrimas noturnas. 

Loucura Involuntária

Eu acreditava que sangue era doce, até experimentá-lo pela primeira vez. Foi nesse dia que eu percebi que a única coisa doce que o homem é capaz de carregar é a falsidade. Eu não queria matá-la. Não queria cometer a burrada de estragar a minha vida sem motivo algum. Certa vez eu a ouvi dizendo que gostava de mim. Certa vez ela me queria longe. Certa vez me masturbei pensando nela. A única coisa que "certa vez" não existiu, embora tenho acontecido, foi amá-la de verdade. Ah! Como as pessoas gostam disso? Amor. São quatro letras e mil máscaras. Deixei claro que o amor era fútil, mas que eu adoraria compartilhar a cama dela. Vagabunda nojenta. Como era linda. E só queria amor. Só queria me ter. E eu não. Eu não gosto dos outros, por que gostaria de mim? Eu disse para ela que a amava, ontem. Na semana passada. Mas ela chorou. Eu ri tanto. Não, talvez eu tenha chorado também. Afinal, quem foi o merda que disse que "homens não choram"? Aposto que o filho da puta já deve ter morrido e chorou, muitas vezes. Lágrimas de amor. E ela me perguntou se eu queria ajuda. Eu queria matá-la. Mas, só transamos e eu fui embora. Eu liguei no dia seguinte... Pedi uma pizza. Não procurei por ela durante um mês. E quando a encontrei, ela sorriu. Vaca maluca. Ela chorou tanto quando eu disse que não seria dela. A culpa era dela. Quem mandou querer o Miguel também? Foda-se ele. Tem nome de anjo. Foda-se aquele anjo. Eu sou um demônio. Ela me chamou assim quando entreguei para ela a faca que usei para furar o estômago dele. Quinze vezes. Eu juro, foi uma só. Mas foi quinze vezes. Ela ficou tão linda. Ela colocou a mão em meu rosto. Várias vezes, enquanto gritava. Eu sabia que ela ainda me amava. Eu também queria vê-la morta. A mesma faca penetrou-me. Vagabunda do inferno. Mas ela não quis tirá-la. Eu tirei. Sangrei e vi que de doce não tinha nada. Ela gritou. Mas eu gritei mais alto. Eu gosto de superá-la. Ela tentou me segurar. Voltou a alisar meu rosto várias vezes, fazendo-o sangrar. Mas só tirei as mãos do pescoço dela, quando ela se entregou a mim. Foi a transa mais quente e rápida que tive. Sete minutos? Acho que uma hora. Ela não gostou tanto. Nem se deu ao trabalho de se despedir enquanto eu ia embora. Eu ainda fui no enterro dela. E disseram-me que eu era louco, quando me prenderam. Não tenho nada de louco. Só não sou normal. Foda-se a sua humilde opinião, não entendeu a minha! Eu só queria ser feliz. Não aqui. Mas estou feliz, aqui. Eu descobri uma coisa que eu estava errado. Sangue, não é doce. Engraçado, eu acreditava que era. Vadia.

Carta de Pai pra Filho

Teddy,


Essa pode ser a única vez em que tenho a chance de conversar com você. Eu sei que é só uma carta. Teddy, palavras escritas podem dizer muito mais do que aquelas que você escutará na sua vida. Então preste atenção.
Eu conheci sua mãe quando ela se aliou à Ordem da Fênix. Eu já era membro há muito tempo. Sua mãe era auror do Ministério da Magia junto com Moody e Shacklebolt. Ela nos mantinha informados sobre as ações do Ministro da Magia e dos outros Departamentos do Ministério. Sua mãe era linda, incrivelmente linda. Seu cabelo rosa chiclete dava aquele ar doce ao olhar amoroso que ela tinha junto com o sorriso engraçado. Mesmo com raiva, com o cabelo vermelho, ainda ficava linda. 
Sua mãe era muito mais jovem do que eu, mas viu em mim um porto seguro. Eu tentei me afastar dela diversas vezes. O nosso mundo ainda olha feio para todo lobisomem, para mim em especial. É difícil conseguir emprego, é difícil conseguir comprar as coisas, é difícil achar amigos de verdade. A Ordem da Fênix era tudo o que eu tinha, já que os Marotos se foram. Peça ao seu padrinho, Harry, para lhe contar mais sobre os Marotos. Almofadinhas e eu contamos muitas histórias para ele. 
Já que essa pode ser a única vez e, talvez, a última que te escrevo, quero falar mais sobre eu, sua mãe Dora e você! Eu e sua mãe queríamos um nome importante para ela e para mim. Escolhemos Teddy porque foi o nome do seu avô. O pai da sua mãe. E por que era importante para mim? Ele morreu lutando contra os Comensais da Morte. Ele morreu tentando proteger aqueles que ele mais amava: sua mãe e sua avó. Ele era um herói e você tem o sangue dele. Não tinha nome melhor para você, Teddy. 
Sua avó talvez lhe conte da vez que abandonei sua mãe grávida. Tive medo, filho. Tive medo de que você nascesse com essa maldição que carrego. Eu tive medo da sociedade te rejeitar como fizeram comigo. Eu queria que você fosse feliz e achei, por um momento, que me afastando de você seria melhor. Me desculpa? Eu voltei antes de você nascer. Eu tinha assumido para mim a obrigação de te proteger, lobisomem ou não. Graças a Deus você nasceu normal. Foi uma surpresa para nos quando, em poucas semanas, seu cabelo começou a nascer, cada dia de uma cor. Aquilo foi o melhor presente que você poderia ter me dado, Teddy. Sou pai do metamorfomago mais bonito do mundo bruxo! 
Eu pedi para que sua mãe cuidasse de você. Eu pedi e deixei com vocês toda a força do meu amor, filho. Essa carta estará comigo em meu bolso quando eu for para a batalha, hoje a noite, ajudar Harry. Eu confio nele. Nós temos a chance de sermos felizes ainda. Vou levar a carta porque é um pedaço de vocês me dando força para lutar. Se eu não voltar para você e sua mãe, Teddy, saiba que estarei uivando para vocês toda vez que a lua cheia brilhar no céu. 

Seja forte, cuide bem da sua mãe. Faça-a mudar a cor do cabelo de todas as formas possíveis. Quanto mais rosa chiclete, mais feliz ela estará. Seja feliz, meu filho. É por você que eu estou tentando mudar esse mundo. É por vocês, nossa família! Eu te amo. Eu amo muito você e sua mãe. Eu te amo muito, Teddy. Você tem o cabelo da sua mãe. Todos eles.

Em lágrimas, mas com amor,
Seu pai, Remus John Lupin.

(Texto escrito por mim, um fã da saga, que acreditava no amor que Lupin tinha por seu filho)

Mais amor, por favor


Enquanto andávamos próximos ao Teatro Municipal, avistamos um pedido que a sociedade deveria atender todos os dias. Obrigado, Tássia Costa, por analisar esse pedido. Ao tirarmos essa foto atraímos a atenção das pessoas que passavam sem reparar no cartaz. Quando terminamos a foto e fomos embora, outra pessoa pousou para uma foto. Assim, conseguimos chamar a atenção para essa necessidade atual. Amor gera amor. Isso sim é uma corrente que vale a pena passar pra frente. 


Adeus, Georgia

Querida Georgia,
Eu nunca soube como começar uma carta. Eu nunca te enviei uma carta antes por causa disso. Mas, de hoje em diante, as coisas serão diferentes, Georgia. Eu vou me mudar. Antes de falar sobre a minha mudança, você já escutou o som do violino? Eu acho que é um dos sons mais tristes que existem. Eu não sei como te explicar, mas eu falei com o violino hoje e tomei algumas decisões na minha vida. Eu não quero mais um cachorro. Não estou pronto para cuidar de um animal. Eu não tive tempo para perceber as coisas que eu fazia, quanto mais para dar atenção a uma criatura que eu trancaria em um quintal. Não. Não estou pronto para Deus. Eu cometi alguns pecados, mas não enxergo nenhum motivo para me arrepender deles. Foram bons, por alguns instantes. Foi bom, pra mim, eu acho. A única coisa que eu realmente não entendi é o motivo de ter que me arrepender para que ele me perdoe. Um simples "tá legal, não faço de novo" não é o bastante? Eu não quero mais sair de casa. Aqui está quente. Tenho comida. Estou seguro aqui. Ouço as notícias do dia a dia. Que mundo de merda é esse em que a crueldade continua a evoluir e a solução ainda é desconhecida? Eu cansei dessas coisas, Georgia! Eu cansei! Hoje eu decidi ouvir o violino. Era uma espécie de solo triste. Ele tocava calmo, acendia e morria. Dava para ver o que ele queria dizer. Eu conseguia me imaginar subindo em um palco ao som do violino e dançando. Eu girava, girava e girava. Eu pulava. Então eu caí e rolei pelo chão e lá fiquei por um bom tempo. Eu olhei a platéia, Georgia, meu amor. Eu olhei para todos. Eles procuravam entender o que eu estava fazendo, mas eu não sabia o que era. Então levantei, corri, pulei, girei e girei e fiz uma dança própria. Eles continuaram a me olhar se perguntando a onde eu queria chegar. Eu cheguei ao final. Eu vi que não iria mudar. Eu não consegui. Nenhum aplauso. Nenhuma flor sobre o palco. Todos se ergueram e se foram. Meu camarim era espelho e eu. O violino voltou a acender quando comecei a quebrar os espelhos. Eu fiz o melhor de mim! Mas, o que eu devia ter feito, Georgia? Eu prestei atenção na música por um bom tempo, até que eu entendi. O propósito não deve ser descoberto, meu amor. Quando a vida faz sentido, é hora de perdê-la. Lembra-se de que eu disse que iria me mudar? Estou partindo, Georgia. Não vou para outro bairro, cidade ou estado. Não vou mudar de país. Estou mudando de mundo, Georgia. Eu entendi o que o violino queria me dizer. Era hora de acertar as contas por ter entendido tudo. Meu amor, Georgia. Não busque as respostas. Quem tudo quer, pouco tem. Quem tudo procura, acha o que não devia. Eu te vi terça-feira a noite com o Dennis. Você sorria de uma forma que eu jamais entenderei. Eu jamais te farei sorrir. Agora é tudo muito simples e claro. Eu vou embora, Georgia. Você será feliz. Você irá para a igreja aos domingos e brincará com seu cachorro nas tardes pós trabalho. Você vai sorrir daquele jeito. Não ouça o violino. Não busque as respostas. Mesmo que eu queira, não me procure. Não fará bem a você. Quando receber essa carta, já terei partido. Apenas dance e gire, Georgia. Gire pelo mundo, porque ele é seu. Apenas entenda. Eu amei o seu sorriso. Eu amei você. Eu amei Dennis. Eu amei dançar. Eu amei o violino. E agora eu tenho que parar de amar. Junto com a carta irá receber a vareta do meu violino. Quebre-a e a música parará para sempre. Só assim, eu, o demônio e quem mais estiver comigo no inferno ou algum lugar, aplaudiremos você. Só te peço uma coisa, Georgia:

Dance para sempre,
Martim.

Não são só vinte centavos! O GIGANTE ACORDOU!

Como eu disse, teria que ir para a fisioterapia e pra faculdade, antes de me juntar ao manifesto. Quando eu estava chegando na faculdade, para fazer a prova, uma multidão subia a Av. Brigadeiro Luis Antônio. Eu tive um problema com o pessoal da Secretaria, referente a minha prova, fiz a prova e saí. Na rua, dei de cara com uma multidão que continuava a subir a Brigadeiro. Sério, mais de uma hora de pessoas subindo a Brigadeiro! Isso foi foda! Coloquei minha bandeira do Brasil como capa e parti para a Av. Paulista para encontrar a Tássia. Nos encontramos no metro Brigadeiro e partimos para a marcha. Fizemos um cartas que... Não lembro direito o que estava escrito... Falava sobre a policia largar as armas e se juntar a nós porque o Gigante tinha acordado. Enfim... Passamos pelo Trianon-Masp, fomos até a Consolação, voltamos ao Trianon e ficamos uma boa parte lá, gritando, cantando e pulando. Foi uma manifestação muuuuuuuuito foda. Sério! "Menos Copa, Mais Educação", "Enfia os R$ 0,20 no SUS", "Não me atire borrachas, atire hambúrguer", "Não del para escrevi direito porque fauto educassão", "+ Educação + Saúde + Direito - PSDB no governo" e muitas outras placas e cartazes muito bons e criativos. Espero voltar lá para levantar mais Gigantes. Foi muito bom! 

Você acha que acabou? Acha mesmo que gritamos, apanhamos, fomos ofendidos por "contra as manifestações" por apenas vinte centavos? Acha que agora vamos desistir? 


Não. Não acabou. Não vamos enterrar o GIGANTE! Acorda, Brasil! Acorda pra mudar! Acorda para melhorar! Não acabou a nossa luta!
Sou contra a PEC 37 da Impunidade!Sou a favor de uma investigação COMPLETA, JUSTA E RÁPIDA sobre as obras da Copa do mundo e meu dinheiro sendo usado nela. 
Sou a favor da LEI que condene corrupção no Congresso Nacional como CRIME HEDIONDO!
Sou a favor de tirarem - morto ou vivo - Renan Calheiros da presidência do Congresso! CARALHO, ELE É LADRÃO CONDENADO! X_X
Sou contra a redução de maioridade penal! O Brasil não é fábrica de crime!
Sou INFINITAMENTE contra o Foro Privilegiado. Se somos todos iguais, por que julgamos diferente? 
Sou a favor da melhoria URGENTE dos atendimentos ao SUS e sua maldita fila de espera. Ninguém quer esperar pra morrer!


Comentários que fiz durante as manifestações de Junho de 2013 em São Paulo.

Uma vela acesa


Não sei dizer exatamente em que ano surgiu a prática, mas ela existe. Quando uma pessoa necessita de um favor, uma ajuda ou simplesmente um alívio espiritual, ela acende uma vela. Ela reza, ela pede, ela chora, ela sorri. Ela simplesmente acende uma vela. Não importa se é para um Deus ou vários. Se é para um espírito ou coisa do tipo, não importa. É um pedido que você faz para quem quiser atender. O céu de hoje amanheceu mais escuro. Um amarelo avermelhado. Um dia triste. Durante a madrugada, vários jovens perderam suas vidas em um acidente. Jovens que tinham sonhos. Jovens que tinham parentes. Jovens que já estavam construindo família. Jovens que ainda queriam muito viver. Um erro. Dois erros. Três erros. Muitas vidas tiradas. O fogo que aquece nossa alma é o mesmo que nos queima. Um show, uma brincadeira, uma festa. Tudo podia dar certo. Tudo podia. Mais de duzentos mortos. Mais de cinquenta feridos. Mais de duas mil pessoas chorando por seus filhos, filhas, amigos, amigas, irmãos. O que aconteceu hoje foi horrível. O que aconteceu hoje é uma mancha negra na história da segurança civil de um país. Mas, já não tivemos escuridão demais? Velas não servem apenas para pedidos. Velas não servem apenas para iluminar bolos de festas. Velas servem para iluminar a vida. Não considere isso uma campanha ou corrente. Considere isso uma proposta diferente. Hoje, acenda uma vela. Acenda uma vela por um amigo. Acenda uma vela por um parente. Acenda uma vela por um pedido de ajuda. Acenda uma vela por qualquer motivo, mas um bom motivo! Hoje, você tem a chance de se levantar e mudar o mundo. Arrumar os erros. Viver bem. Um abraço. Um beijo. Um sentimento de amor. É isso que está faltando: amor. Acenda uma vela. Você ganhou muitos anjos/espíritos amigos hoje. Tem mais de duzentas chances de seus pedidos serem realizados. Basta apenas iluminar a vida deles. Um sentimento triste para desejar meus sinceros votos de força para todos os que sofrem pelo acidente da balada em Santa Maria.

Uma pequena mensagem de apoio aos amigos e familiares das vitimas da boate Kiss em Santa Maria.

Drama de Águas Doces


"Quando está escuro" e você está sozinho...O medo cresce de uma forma que chega até dominar. São problemas, conflitos, deveres e até responsabilidade que você não consegue aguentar. E você percebe que o escuro não só te deixa fraco. Ele tira todas as coisas boas de você.

"E ninguém te ouve". Não adianta gritar. Quem mais você vai chamar? Nada consegue afastar esse problema de você. Quanto mais você o explica, menos faz sentido a outras pessoas. Você se sente besta. Você se sente fraco e mais inseguro. Ninguém entende que "só aquilo" é mais do que você queria.

"Quando chega a noite", os problemas voltam a te chamar. Voltam a avisá-lo que os problemas existem e que são barreiras difíceis de se superar. Você pode pular um muro, mas ele continua. É difícil destruir um muro com as mãos. Você precisa de forças, mas já é noite... Quem vai chamar?

"E você pode chorar" de novo, e mais uma vez, e se puder outra e então mais uma. As lágrimas já não são as mesmas. Já não caem igual. Você não sabia que podia chorar tanto. Você nem sabia que isso lhe faria chorar. Mas por que não? Que lave a alma. Limpe meus problemas também, por favor?

"Há uma luz no túnel", mas você está parado. Corre, cara! Corre! Ela pode ser a cura para tudo isso. A resposta! A coisa certa a ser feita! Você não tem certeza, nada é seguro. Mas arriscar é melhor que ficar parado. Corre, tenta!

"Dos desesperados", dos loucos, dos sofredores, de quem ama e de quem precisa amar. Todos temos um motivo, mesmo que fraco ou pequeno. Precisamos de ajuda. Precisamos de alguém. Eu preciso tanto de você.

"Há um cais de porto". Ele te oferece uma fuga. Ele está pronto para partir. Ele não tem um rumo certo. Não é certeza de que você vá chegar a algum lugar. Não há respostas. Só mais perguntas. Só mais um "arrisque". Só mais uma chance que você pode pegar.

"Pra quem precisa chegar". Pra qualquer um. Você precisa. Tome uma dicisão e vá. Corra, nada, pule, voe! Faça tudo que estiver a seu alcance. FUJA! Fuja para longe! Não deixe nenhum aviso. Prometa apenas voltar.

"Eu tô na lanterna dos afogados". Da pra ter um significado melhor? A luz para quem esta perdido. A ajuda a caminho. A resposta da sua questão. Aquilo que você não sabe. É exatamente ali onde você está. É exatamente ali que tudo pode mudar. Afogue-se.

"Eu tô te esperando", mesmo que demore. Já te fiz esperar tanto, por que não esperar também? Eu sou ansioso. Eu não aguento. Ouço o tic e tac e começo a mexer a perna. Olho para os lados. Onde você está? Cadê Você? Eu estou aqui!

"Uma vida longa... Pra uma vida curta" e eu aqui sofrendo, sem saber como explicar. Uma drama romântico. Uma comédia triste. Um horror infantil. Uma felicidade a conquistar. Sem saber como, eu ando. Buscando te encontrar.

"Mas ainda sei me virar". Quantas mentiras eu usei pra isso? Meu sorriso é a maior delas. Meu olhar doce, querendo chorar. Minha cara fraca, com a mente rodando e você por ai, sem querer me escutar.

"Vê se não vai demorar"! Eu já demorei tanto. Não sei mais o que fazer. Não vou mais esperar. Achar a maneira certa... Para quem quer se afogar.



Uma pequena brincadeira que fiz com a letra da música "Lanterna dos Afogados" d'Os Paralamas do Sucesso. 

Incerto como o passado

Incerto como o passado

Há dias que passo ouvindo música. 
Há músicas que passam dias em nossas cabeças. 
Há cabeças que passam as vidas vazias. 
Há vazio demais em muito coração. 
Há um coração em cada um de nós.

Havia planos em meus sonhos.
Havia sonhos no passado.
Havia passado no presente.
Havia presente muito triste.
Havia tristeza que se tornava felicidade.

Haverá dias de muita chuva.
Haverá chuva com muitas gotas.
Haverá gostas com muito amor.
Haverá amor demais para mim.
Haverá "mim" de menos para amar.

Havia pensado que haveria certeza onde há muito amor. Mas há apenas planos que nada mais são do que esperanças de haver amor um dia. Havia acreditado que amor e fim não podiam estar na mesma frase. Assim como há quem diga que finais felizes deixaram de acontecer há séculos. Haverá dias em que o homem lutará, com ou sem objetivo. Havia homens que acreditavam que isso seria impossível. Há chances de nada do que eu disser fazer sentido. Havia maior chance se eu explicasse o que eu sinto. Ah! Haverá dias em que lágrimas correrão em meu rosto. Há amor nelas. Assim como havia planos em cada palavra que eu disse antes de soltá-las. Haverá quem diga que o único motivo do dramático escritor deixar seu testamento é o medo de ser esquecido. Havia certeza na palavra de quem dissera isso. Assim como há, de certo modo, minha culpa por não querer continuar. Havia amor onde há medo. Homens lutam. Homens vivem. Homens injustos. Homens mortos. E eu havia enlouquecido, esperando você ver o quanto há de amor em mim.

Seja Luz

Seja Luz...

Olho para a minha direita e vejo um percurso longo e escuro. Ao virar-me para encarar a minha esquerda, não encontro surpresa alguma. Quando dois caminhos são iguais, torna-se difícil escolher um. No final de cada um deles, terá sempre a mesma coisa? Se a resposta fosse um "sim", estaríamos andando em círculo, até que nossos pés cansassem de andar e finalmente encontraríamos a "Luz". Não faria sentido algum viver dessa forma. Seria essa a resposta para o suicídio? Seus praticantes seriam as pessoas que encontraram essa resposta antes do que seria determinada "sua hora"? Embora seja uma ideia interessante, obrigo-me por razão, medo ou talvez birra, a não concordar com estes argumentos. Dessa forma, sou obrigado a formular novos conceitos para que continuemos a peregrinar. Se a minha direita vejo trevas, e a esquerda não há a menor diferenças, tomam-me o pensamento de que por ambos os caminhos encontrarei dificuldade. Vou vacilar, vou temer, vou cair. Mas se eu não estiver sozinho, serei erguido do chão. Se eu me machucar com a queda, cuidarão de mim. Se eu tropeçar, me seguraram. Serão as minhas “Luzes". Eis que encontrei, então, outra resposta para nosso enigma das sombras. Mas, caros filósofos, se a resposta fosse a dependência, por que nós seríamos os beneficiados? Haverá de receber gratidão aqueles que forem "Luz", ou seu destino é levarmo-nos a ela e perecer? Encontrei-me então em mais um beco sem saída. Mas, como todo bom filósofo, tomei-me por obrigação encontrar uma resposta que me fosse digna de uso. Se a minha direita tenho trevas, e a esquerda também, tomo-me a consciência do meu segundo pensamento: irei encontrar dificuldades, seja qual for o caminho escolhido. No entanto, a vida não deve girar em torno de mim mesmo, mas eu devo girar em torno de "vida". Nota-se que um viajante só tem mais chances de morrer em uma viagem do que um grupo. Desta forma, seguiremos também outra parte de meu segundo pensamento: não estarei sozinho. Eis que voltei a encontrar trevas em minha resposta. Como conseguirei chegar a "luz", mesmo em companhia? Só então encontrei minha resposta, caríssimos. Nada gira em torno de si, mas, cabe a ti girar em torno do mundo. Você deve se preocupar com a queda de quem estiver a seu lado, ajudado-o a se reerguer. Deverá atentar-se a estrada, para que não deixe seu amigo cair, e não caía também. O egoísmo que tomamos como fonte de nossas vidas, mesmo que involuntária e despercebidamente, é o que nos mantém longe da resposta. Formulada uma nova ideia, decidi peregrinar para qualquer um dos lados. Tomei-me a ideia de que tanto à direita, como a esquerda, me levaria ao mesmo lugar. Um círculo. Hora curto, hora longo, hora como deveria de ser para cada um. Mas então, basta estar em companhia para que recebamos a "Luz" no fim de nossa viagem? Se esta é a pergunta que bate em sua consciência, ainda não me compreendeu. Não importa o lado que seguir. Você precisa deixar o egoísmo de lado e se preocupar em ajudar e manter a proteção dos outros. Você, ao fazer isso, estará seguro e atento. Você será a "Luz". A recompensa que tanto sonhamos, não vem ao fim como "Luz". A recompensa, seja lá qual for e que seja de acordo com o que realmente merecemos, será concedida a quem soube "ser Luz". Seja forte. Seja bom. Seja quem for que adotar este pensamento: Seja Luz.

Sete horas

Sete horas.
Diiing. Você começa a pensar sobre a sua vida. Você faz uma lista de amigos. Olha quantos nomes nessa lista. Você olha para cada nome e pensa em uma coisa boa que já fez ao lado dessa pessoa. Você olha o nome e, incrivelmente, vê essa pessoa sorrindo ou fazendo algo legal. Você está feliz. Essa pessoa te faz feliz. Por isso colocou-a nessa lista. Porque é feliz com ela. 

Dooom. Mas ai você lembra de um erro. Uma palavra mal usada. Um sinal mal interpretado. Lembra que essa pessoa já feriu você uma vez. De forma fraca. De forma forte. Você chorou. Você desejou-a morta. Você leu o nome dela na lista e tudo o que viu foi um sorriso falso. Você viu maldade. Viu o que te fez ficar pior. Não devia ter visto. 

Diiing. Então você começa a fazer uma lista diferente da primeira. Faz uma lista daquelas pessoas que você PRECISA em sua vida. Aquelas pessoas que você gosta ou necessita ver todos os dias. Aquela pessoa que você não consegue se imaginar sem. Você olha o nome dessa pessoa e a vê, te abraçando. Você olha aquele sorriso sincero e aquele abraço gostoso. Você viu que aquilo te fazia sorrir, que nem bobo.

Dooom. Mas então você se lembra de sua culpa. Lembra que em um dia você deu uma mancada muito grande com essa pessoa. Lembra que mentiu. Que enganou. Que traiu. Que se fez de santo. Lembra que nunca revelou a verdade. Lembra que você sabe da verdade, mas se contá-la agora que essa pessoa superou o problema, ela pode voltar a tê-lo. Ela pode perder o carinho por você. Você se lembra que foi triste olhá-la daquela forma. Aquilo machucou você.

Diiing. Você é positivo. Você sabe que vai dar certo. E se não for, ah... Tenta de novo. Você vai. Você luta. Você encara. Você faz mais uma lista. Olha... Ela diminuiu. Nessa lista você colocou o nome das pessoas que você disse "eu te amo" oferecendo o seu coração para ela. Dizer isso é fácil, mas essa lista tem o nome das pessoas que você ama muito, muito mesmo, de verdade. Você lê o nome dela e não a vê direito. Dá saudade. Dá vontade de abraçar.

Dooom. Então você percebeu que não queria abraçá-la. Não podia. Não devia. Você não sente saudade. Você não deu valor para ela ficar. Ela te abandonou. Mas a culpa é toda sua. Você vê o nome na lista e pensa "Está longe porque eu não fiz...". Não fez. Não quis. Agora quer? Você achou que ela não te merecia ou não era importante dar aquela ajuda agora. Quantas vezes você ouviu os problemas dela? E dai que ela brigou com alguém, não é com você! Mas agora... Ela fala que brigou para outra pessoa. Quem sabe ela fala que brigou com você, para outra pessoa. Será que ela lembra de você?

Ding. O sino para de bater e você está chorando. Você chora porque gosta de alguém. Chora porque não deu valor. Chora porque queria estar com alguém. Chora porque a deixou partir. Chora porque você queria ganhar aquele abraço. Chora porque odiava abraçá-la. Chora porque disse eu te amo. Chora porque ela disse que te amava. Chora por fingir estar feliz. Mas ai, ninguém chora por ti. Não tem mais badaladas. O relógio continua. A vida da voltas? Se sim, corre. Você pode voltar. Você pode amar. Pode abraçar. Pode ouvir. Pode falar. Pode sentir. Pode ajudar. Pode viver e deixar eu te amar. Porque é assim que eu vejo as coisas. Eu te amo. Não quero perder esse amor. Então eu te amo um pouco mais, como se quisesse te dar um empurrãozinho para me amar. Então eu vejo que o mundo não é assim e que amar é ser questionado quando a dor que sente e não sabe explicar. Foda-se o que vão falar. Branco, preto, azul ou castanho. Sabão, avelã, vinho tinto ou pura seda. Não precisa ser igual pra ser certo. Precisa se gostar pra dar certo. Precisa de MAIS AMOR. Então, quando terminar de ler isso aqui, sinta meu abraço, meu beijo, meu sorriso honesto e carinhoso. Limpe minhas lágrimas e eu jamais deixarei de limpar as suas. Mas, por favor, saiba que eu não esqueço. Sou fraco. Mas sou assim. Gordo, bobo e feliz. E toquei o sino sete vezes hoje, mandando um beijo, um abraço, um sorriso, um ouvido, um carinho, uma bronca e um coração para dizer que EU TE AMO. E nem sei quem está lendo. Isso porque eu acredito no amor. E você, é capaz de crer em mim?

Cartas de Oromis Melkor

26 di Kófer di 15 Duo-Marte,
O gato se vai... Nesse começo de noite não há nenhuma estrela iluminando o céu de Oppos. Como sinto saudades de casa. Como queria estar ao lado de minha família na Ilha de Bensi, em segurança. Já lhe disse que não confio muito nas pessoas deste lugar. São brutais! São agressivos! Nunca vi homens se matarem com tanta facilidade, por tão pouco. Um punhado de moedas de ouro é tudo o que precisariam pra arrancar uma cabeça. Povo cruel! Como quero descansar em minha Ilha! Mas sonhar com minha casa não é o bastante... A guerra acabou na manhã de ontem. Ganhamos. Eu ainda sinto a dor de cada homem que matei com meu ácido veneno e os cortes profundos de minhas garrafas. Noto que a vitória não me fez bem. Mas estou vivo! Seja lá o que isso significa, nesse momento. Eu decidi partir. Oppos e seus moradores são maldade demais para mim. Onnehera? Só se eu quiser que me matem. Ouvi dizer que uma discípula de Catherine assumirá o Condado. Que Óbor me proteja! Estou decidido. Ainda nesta noite, deixarei o Castelo Real de Oppos. Paguei quinhentas heptas a um guarda e a dois arqueiros da torre para abrirem os portões nessa madrugada. Irei a pé. Pegarei a estrada do norte em direção a Virplent, em Sëplenvon. Começarei a viajar pelo mundo. Que Óbor ilumine meus caminhos e que a Deusa da Terra venha comigo. Não estou sozinho. De alguma forma, sei que não estou sozinho. Começarei a andar em breve. A Trombeta do Socorro, a Adaga Curta da Tribo Perdida, minha capa e todo o meu dinheiro são as únicas coisas que levarei comigo. O resto, será história. O que vier, fará história. Que meus amigos entendam. Que meus inimigos aceitem. Que Ela... Oh... Que Ela se lembre de mim quando amanhecer. Está na hora de ir.

Despido do medo, desejando-te uma noite maravilhosa,
— Oromis Melkor, O Forasteiro.
Diplomata da Ilha de Bensi, Meltto da Ilha de Bensi, Meltto de Sëplenvon, Filho da Luz e Membro das Lágrimas de Óbor.



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13 di Lusbo di 15 Duo-Marte,
Eu nunca achei que fosse ser fácil, mas esperava um fim, após uma dificuldade. Não outra. Caminhei pela trilha central que liga Oppos a Sëplenvon por longos dias, até que me deparei com um acampamento de uma barraca só. Havia várias fogueiras, muita bagagem e muitos cavalos amarrados e espalhados pelo lugar, mas apenas uma barraca. Eu, dotado de minha inocência, aproximei-me para pedir água. Anunciei-me ao chegar perto e nada aconteceu. Voltei a me anunciar e o silêncio continuou. Eu decidi entrar, mas não consegui. Ao tocar na lona da barraca, uma flecha curta e de ponta grossa atravessara meu ombro esquerdo. Havia uma mulher encapuzada atrás de mim, com uma besta em mãos. Não mais de cinco metros nos separava. O sangue escorria pela minha capa e meus olhos encararam a mulher. Uma mulher idêntica surgira do meu lado direito, seguida por outra que ficara do meu lado esquerdo, também portando bestas, prontas para uso. Uma quarta mulher, idêntica as demais, surgira atrás de mim. A última, a única que estava com o capuz abaixado, colocara uma adaga em minha garganta e me chamara de ladrão, mandando-me ir embora, ou me mataria. Ah! Santo Óbor! Demorei a conseguir convencer a mulher de que eu era um viajante, não um ladrão. Apresentei-me, e como tal, ela retribuiu. Seu nome era Eldenin Posjü, Maga do Espírito, viajante também. Ah, que ela era uma maga do espírito eu descobri após as demais mulheres sumirem. Clones! Somente a da adaga existia. Senti-me envergonhado em dizer que abriguei-me com ela naquela noite, visto que ela curara o ferimento em meu ombro, causado por ela mesma. Partimos ao amanhecer. Ela iria para Perse, em Jansen, ao norte de Sëplenvon. Arrumei uma companheira de viagem. Andamos mais alguns dias, agora a cavalo e escoltado por um grupo de mulheres clones fortemente armadas, até que a areia começou a penetrar na grama e a grama sumiu. Não havia mais floresta, somente um deserto. Um deserto que era quente, dia e noite. Passamos fome. Passamos sede. Passamos por magos perdidos, viajantes, ladrões e até uma criatura que batizei de Halup, um escorpião do tamanho de um elefante, só que sua cabeça era de galinha e, junto ao ferrão, havia um rabo de pavão que se abria sempre que ele vinha nos atacar. Era estranho, mas conseguimos vencê-lo. Guardei algumas penas de sua calda e veneno de seu ferrão comigo, enquanto Eldenin ficou com os olhos da criatura. Sei que viajamos por mais alguns dias, até chegarmos em Virplent, a cidade do vidro. Mas agora é noite. Catherine toma conta dos céus. Eldenin e armamos a barraca próxima da cidade, mas fora da mesma. Iremos visitá-la ao amanhecer, agora, precisamos dormir. Ainda sinto sede. Ainda sinto fome. A carne que conseguimos comprar dos viajantes há alguns dias acabara, assim como a água. Mas há uma cidade a frente. Tudo melhorará... Só agora vejo que esta barraca é grande o suficiente para mais uma pessoa. Você. Bem que poderia estar aqui com a gente. Bem que poderia estar comigo.

Com fome, com sede, com saudade, mas com amor,
— Oromis Melkor, O Forasteiro.
Diplomata da Ilha de Bensi, Meltto da Ilha de Bensi, Meltto de Sëplenvon, Filho da Luz e Membro das Lágrimas de Óbor.

Adeus Novembro

Como uma ideia repentina, chegou novembro,

Uma caixa negra e bem fechada que contém segredos, ideias, desejos e conclusões sem nenhum e com infinitos fundamentos pessoais de um sorridente infeliz brasileiro. Aqui jaz a água passada de uma correnteza circular e inédita com validade indeterminada. E quando amanhecer um dia ensolarado do próximo mês, não esquecereis de que a caixa será lacrada. Eu estarei dentro dela esperando que tu abras a tampa para lhe entregar um novo e doce novembro.

Até que chegue ao fim, outra vez,

- adeus novembro.