A
escuridão escondia o vento forte que trazia a chuva. Eu estava só e com medo,
mas não havia saída: eu tinha que continuar. Há poucas milhas de meu destino
final, a morte, fui lavado pela fria lágrima da noite. Havia algo naquela chuva.
Havia dor. Eu sentia a tristeza do mundo escorrendo pelo meu rosto conforme
combatia distâncias. Não, não consigo explicar porque a noite chorava tanto. Não sei dizer se foi eu ou foi você quem causou
essa tristeza na noite. Mas, ela chorava. Ela sentia a dor do mundo. Ela me
molhava com suas lágrimas solitárias e tentava me explicar. Ajoelhei-me e
gritei aos céus para que me ouvisse. Gritei. "Eis-me aqui! Seu servo! Dê-me
o seu problema! Entregue-me sua dor!". E quando o raio iluminou o alto dos
céus, clareando tudo como se fosse dia e acertando-me direto na língua, pude
ver o que havia feito. As mentiras ditas. As grosserias. As maldades e
crueldade que eu havia falado. O veneno que eu cuspira. Aquele raio partiu-me a
língua em duas partes. A chuva parou. A noite brilhou em estrelas. Eu tirara o
peso da noite. Eu carregara a cruz da noite. A cruz que eu mesmo havia
construído e dado a ela. Eu engolira meu próprio veneno e me afogara nas
últimas gotas de chuva. E só então eu percebi que tudo o que eu precisava dizer
para a noite era "Desculpa. Me perdoe", e ela me faria gozar de sua
alegria. Sem estrelas. Sem lua. Sem chuva. Sem noite. Sem meu veneno. Sem eu
para continuar a destruir a vida. Lágrimas cruéis... Ainda choro-as. Malditas lágrimas noturnas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário