quinta-feira, outubro 24, 2013

Enlouquecendo Heyck - Papiro da Harpia

A escuridão escondia o vento forte que trazia a chuva. Eu estava só e com medo, mas não havia saída: eu tinha que continuar. Há poucas milhas de meu destino final, a morte, fui lavado pela fria lágrima da noite. Havia algo naquela chuva. Havia dor. Eu sentia a tristeza do mundo escorrendo pelo meu rosto conforme combatia distâncias. Não, não consigo explicar porque a noite chorava tanto. Não sei dizer se foi eu ou foi você quem causou essa tristeza na noite. Mas, ela chorava. Ela sentia a dor do mundo. Ela me molhava com suas lágrimas solitárias e tentava me explicar. Ajoelhei-me e gritei aos céus para que me ouvisse. Gritei. "Eis-me aqui! Seu servo! Dê-me o seu problema! Entregue-me sua dor!". E quando o raio iluminou o alto dos céus, clareando tudo como se fosse dia e acertando-me direto na língua, pude ver o que havia feito. As mentiras ditas. As grosserias. As maldades e crueldade que eu havia falado. O veneno que eu cuspira. Aquele raio partiu-me a língua em duas partes. A chuva parou. A noite brilhou em estrelas. Eu tirara o peso da noite. Eu carregara a cruz da noite. A cruz que eu mesmo havia construído e dado a ela. Eu engolira meu próprio veneno e me afogara nas últimas gotas de chuva. E só então eu percebi que tudo o que eu precisava dizer para a noite era "Desculpa. Me perdoe", e ela me faria gozar de sua alegria. Sem estrelas. Sem lua. Sem chuva. Sem noite. Sem meu veneno. Sem eu para continuar a destruir a vida. Lágrimas cruéis... Ainda choro-as. Malditas lágrimas noturnas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário