quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Peça Roteiros Da Vida

  Crescemos em um mundo que nos ensinam a viver em fantásticas utopias, mas nos cobram dramáticas realidades que não estamos prontos para aceitar. Temos capacidade de atuarmos nossas histórias em meio às mentiras, protagonizando um falso sorriso, mas com pensamentos sádicos e, em quase todos os atos, misantrópicos.

  Não existe um único ser vivente que não tenha acolhido a morte como companheira, mesmo que por alguns segundos ou em pensamentos ocasionais, mas mente – ou continua atuando – quem diz nunca ter desejado a morte ou um final “diferente” a alguém ou a si próprio. O que importa mesmo é que todos já tiveram vontade de mudar o roteiro a seu proveito e benefício. Ser o protagonista da própria história faz brotas uma desculpa necessária e natural em nossa vida: o egoísmo. Essa máscara não está presente em nenhum rosto, mas está sempre conosco. Nosso maior segredo.

  O ápice dessa clássica representação, nomeada Vida, tem início quando começamos a dividir nossos palcos com outros personagens, mas ainda cabe a nós decidirmos os papéis disponíveis para esse novo elenco. Seja vilão ou herói. Seja uma vítima qualquer ou um inocente mocinho. Uma paixão platônica ou o amante. Por que não um figurante qualquer? Eles vão passar por nossa tragédia. Alguns passarão despercebidos, enquanto outros ficarão, mas não os notaremos. É melhor fingir que passou. Segue-se o ato.


  No fim, para que as cortinas da vida se fechem, fingimos que tudo sempre teve cor e flores! Fomos felizes, na maior parte do tempo – mesmo você, agora, fingindo ter sido o tempo todo –. Esperamos, com medo, e fingimos coragem na busca pelo “final feliz”, mas a verdade cruel é que não percebemos que ninguém escreve roteiros com tintas coloridas e que as flores que viriam não serão recebidas por nós. Foi colocado um ponto final e já não faz diferença, nem teremos como saber, se existe ou não os aplausos e o “para sempre. 

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Rosa Amada

Quando eu era pequeno imagina que o amor era uma mulher de vestido vermelho e cabeça de rosa. Você me entendeu! Em vez de um crânio, uma pétala de rosa se abria acima do pescoço. Uma cabeça de rosa, mesmo!

Eu acreditava que o amor, quando acordava, exalava sua pureza. Como as rosas fazem ao abrirem seus botões no nascer do dia, soltando seu perfume para o mundo acordar mais doce. Gentil.

Eu sonhava que o amor era uma doce rosa, que fechava seus botões ao escurecer para proteger todos os seus sonhos em um botão, uma cúpula. Assim, a mulher Rosa Amada se deitava e dormia, protegendo seus sonhos de baixo dos lençóis. Escondendo seus medos!

Mas, como toda criança, eu descobri a realidade era diferente do que me contaram um dia.

Sim, Rosa Amada realmente existia. Existia amor! A história era verdadeira, mas havia mais vírgulas e pontos do que me recordava. Provavelmente essa era a parte que ocultavam de mim, antes deu dormir. A mentirinha boa para me deixar feliz!

Rosa Amada, não era assim. Não era rosa, não era amada. Não era ela, feliz.

Exalava cinzas, graças aos cigarros que fumava para se sentir segura. Para esquecer. Para tirar dela o que doía.

Não mais fechava seus botões. Romperam seus lacres e nada mais lhe importava. Roubaram seus sonhos, não mais vivia.


Não mais exalava seu doce! Abelhas a roubaram e a deixaram só. Deixaram-na sem seu maior fruto. Sem amor!

Ah! Pobre Rosa Amada, sem rosa, sem amor! Seus dias seguiram e a rosa cinza se tornou.

Seu perfume acabou em um espiral de fumava que subiu e sumiu aos céus. Uma memória que se acabou.

Quem olhou, lembrou do perfume. Lembrou do tempo que tinha amor. Lembrou do tempo que a pobre amada era Rosa Amada, mulher do amor.

Pétalas caíram e o botão se fechou. Não era mais rosa! Era só mulher... Não era amor, era um corpo sem nenhum valor. Era um corpo sem vida. Aqui jaz o amor!

E assim vivemos e esquecemos o real valor do cheiro doce e da proteção de quem sempre amou.

Descanse em paz, Rosa Amada! Enterrada, viveu sempre à custa do amor, mas não mais o soltou aos céus e enfim, pobre flor, se acabou.