sábado, janeiro 23, 2016

Apenas como eu me sinto

E, novamente, a maldita luz bateu em meu rosto, queimando meus olhos, então fechados, e acordando-me do sono utópico em que vivia.

Todo aquele sonho se foi. Aquela vida que há algumas horas se tornara parte de mim, acabou ao abrir os olhos e pestanejar de uma irritação causada por aquela luz.

Já era dia. Já era hora de ir.

E em uma simples ação, um guindaste de obrigação mental que içou meu corpo para fora da cama, até que eu fosse erguido. Me dirigi ao banheiro e, depois de esvaziar as impurezas naturais de meu corpo, tentei me reciclar em um banho. 

Diziam que a água, a chuva, o banho... diziam que isso lavava as impurezas do corpo. Só que não existe banho para as almas. Não se limpa uma alma poluída.


E não me fale de batismo! Tanto o cristão, quanto o alcoólico, foram feitos. O batismo nada mais é do que a necessidade de uma esperança. Não é fé. É o precisar de um sinal e crer que ele vem. Que ele precisa vir. Que ele deveria vir para te ajudar. E ele, ainda, não veio.


A toalha secou as gotas de água que ainda umedeciam meu corpo nu, mas não conseguia secar meus pensamentos. Meus desejos. Talvez fosse um pedaço de impureza encravado em meu corpo e a toalha jamais poderia secá-la.

De volta ao quarto, abri o armário e procurei a minha armadura. Precisava de algo que fosse me proteger do mundo. Algo que fosse capaz de me esconder do conservadorismo e padronização social que guiava a sociedade em que eu era obrigado a fazer parte.

Embora não fosse do metal mais forte, a armadura estava pronta e justa em meu corpo. Eu estava pronto para a guerra! E a porta de casa se fechará atrás de mim, de forma que eu tive que seguir em frente.

Eu jamais conseguiria contar o número de outros guerreiros que passaram por mim. Eu jamais saberia dizer quantos estavam usando suas armaduras. Nada me faria vê-los, porque meu egoísmo me permitiu seguir, não procurar companhia para ir em frente. Eu fui.

E quando cheguei ao meu destino final, que de nada me satisfazia - ou seja, não era meu objeto -, encontrei-me com um líder. 

Não havia diferença alguma entre eu e ele. A mesma armadura. O mesmo egoísmo. A mesma utopia. Era a vida em que jogávamos. Ele ergueu sua cabeça, imponente e com olhar consolador, perguntando-me:

- Você está bem?

E minha espada cortou o ar mais rápida que a lâmina da arma de meu inimigo, impedindo-a de me cortar. E em um giro de minha armadura, com auxílio de minha arma, consegui rasgá-lo pela frente como se meu inimigo fosse um pedaço de seda.

- Sim. - Respondi. - Eu estou bem. - 

E minha armadura se ajustou sozinha, espremendo a carne de meu corpo até que sentisse os ossos sendo estalados. A mais doce mentira mascarada de simplicidade e verdade, comum como qualquer sorriso. Venenoso como qualquer verdade, embora oculto, como qualquer pedido de socorro. 

E eu achei que tinha vencido outro dia, antes de tirar aquela armadura de meu corpo. 

Livre de todo aquele peso, me deitei e entreguei ao destino a minha vida. Talvez a minha alma. Como resposta, outra utopia, outra lambida efervescente da luz solar e outro dia para lutar.

Se era para ser lembrado como forte, preferia desistir. Se era para desistir, preferia não ser lembrado. Nessa inconsistência, apenas vivi e não sei o que se passou, pois morri e o tempo se seguiu, sem mim