terça-feira, outubro 20, 2015

Era pra ser só mais um desabafo...

Era pra ser só mais um desabafo que eu acabei tornando em canção. E eu mantive os meus olhos parados, para encontrar uma direção. Mas tudo o que eu conseguia ver me dava medo de continuar a procurar algo para enxergar, e eu queria desistir de você. Você é o que eu chamo de vida. Vida é o que eu digo "ter". Me sinto mais um estranho na estrada, que ainda não terminaram de fazer.
Uma vida segue e eu já não quero um rumo. Eu fiz as malas, eu saí pro mundo. A noite é quente quando eu rego com álcool todos os meus desejos de ser. Será que há de ter um caminho, pra quem nem o mapa quis trazer, na viagem infinita à morte que nessa noite eu sonhei?

Ter sonhos que acabam quebrados como uma garrafa de vidro que eu deixei por aí. Até os passos já não dançam sorrindo. Acho que nem bêbado estou outra vez. E sigo, e sigo e vou sempre sozinho, acompanhado pela timidez da ousadia de sonhos vencidos pela desistência de quem a morte conheceu. 
E no caminho da morte há flores, que fiz coroas e me tornei rei. Saúdam todos o Rei do Nada! O Senhor da Morte! Forasteiro do além! Abram alas para o Lorde da Sorte. Deixem passar o velho que acha que é Lei. Como se fosse outono logo janeiro, as cores secaram e eu caí outra vez. Eu era um pedaço do mundo florido, mas seco e sonhos em um reino deserto. Logo já tinha nenhuma coroa, e em minha cabeça só o vazio outra vez.

Aí! Os meus pés não aguentam nem outro passo, seria ousadia o "tentar outra vez". Carrego a vergonha de ter desistido, mas levo a ousadia de pensar em você. E o rei que caiu da árvore Vida, que era um mundo onde ninguém tem vez, esse rei hoje no chão de uma sala vazia não conseguiu parar de escrever a sua carta de despedida onde começa com um "eu amo você" e que se repete por todas as linhas.
Momentos finais desse desespero, que foi selado sem nenhum destinatário. E a carta foi levada pra vala com um sonho qualquer chamado Homem, morto ao teu lado. E a canção nunca mais teve ritmo algum, a canção perdeu todo o sentido. Era pra ser um pedido de asilo. Era pra dizer que eu nunca desisto.
Oh, era pra dizer uma mentira, outra vez...