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Xeque. - Avisou Charles. - E lá vai você me devendo mais uma garrafa de whisky.
- Ora, cale-se. - Bufei, sorrindo para o
tabuleiro.
Charles era meu amigo desde os quinze anos. Nunca me abandonou e sempre batalhei para que ficássemos próximos. Foi padrinho do meu casamento e do meu primeiro filho. Ele,
mais do que ninguém, me conhece tão bem. Posso afirmar que ele sabe de segredos jamais descobertos por Amélia. Segredos bobos ou sem importância que precisei compartilhar com alguém, embora hoje não me afetassem em nada. Embora fossemos tão próximos, ele não era minha única companhia nas tardes de domingo. Filipe ficava
comigo. Meu único neto, até então. Filipe tinha quatro anos e não se
sentia nem um pouco interessado com a partida de xadrez. Dessa forma, ele se ocupava com
algumas folhas de papel e lápis coloridos.
- Muito bem. - Parabenizou Charles. - Até que enfim
notou que os cavalos são os mais valiosos do xadrez.
- Não fale besteira, Charles. - Retruquei, cruzando meus braços. - Os bispos são os mais importantes, depois da Rainha.
- Bah! Mulheres não prestam para guerras. - Zombou Charles, movendo uma peça. - Elas ficam em casa rezando por nós.
- Mulheres não prestam só para cuidar da casa e manter as orações em dia, meu amigo. - Respondi, sacrificando meu bispo. - Servem para nos dar amor, também.
- Não seja idiota. - Zombou Charles, comendo meu bispo com o cavalo dele. - Xeque.
- Não fale besteira, Charles. - Retruquei, cruzando meus braços. - Os bispos são os mais importantes, depois da Rainha.
- Bah! Mulheres não prestam para guerras. - Zombou Charles, movendo uma peça. - Elas ficam em casa rezando por nós.
- Mulheres não prestam só para cuidar da casa e manter as orações em dia, meu amigo. - Respondi, sacrificando meu bispo. - Servem para nos dar amor, também.
- Não seja idiota. - Zombou Charles, comendo meu bispo com o cavalo dele. - Xeque.
- O que é amor? - Perguntou Filipe.
Charles encarou o garoto e me olhou com cara de
quem devesse contar uma mentira. Eu não sabia o que dizer. Amor era complicado
demais para definir de uma maneira que um garoto de quatro anos entendesse.
Pensei em fazer alguma comparação com algum daqueles desenhos que ele assistia na televisão ou com o carinho que ele sentia pelos pais dele, mas Charles o
envenenara.
- Amor é o nome que se dá para uma coleção de
decepções, meu caro. - Respondeu Charles. - Não ame. Não vai sofrer.
- Amor é algo bom que sentimos pelos outros. -
Retruquei, elevando minha voz. - E que precisamos sentir sempre.
Charles abriu a boca para me retrucar ou lançar
mais algum típico argumento de um homem que nunca deu chances para o amor, após
um fracasso, quando o interrompi.
- Xeque mate. - Anunciei, após comer o cavalo dele
com o meu segundo bispo, cercando o rei dele com minha rainha, torre e bispo.
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