segunda-feira, outubro 28, 2013

Bebendo o trago de um desabafo


- Eu preciso fumar. - Gritei. Eu precisava sair daquela sala o quanto antes.
- Acalme-se, sente e vamos tentar de novo. - Pediu o doutor. - Quem era ela?
- Meu amor. - Respondi no mesmo instante, deitando-me na poltrona, me sentando em seguida e voltando a deitar. - Um fantasma. - Acendi outro cigarro.
O silêncio tomou conta da pequena sala da clínica psiquiátrica, enquanto eu tragava o mais rápido que podia, sem dar valor para a fumaça que subia em espiral. Sem dar valor para ela.
- E ela te fez algum mal? - Perguntou o doutor.
- Ela nunca me fez bem. - Respondi, sentado, mais uma vez. - Mas eu precisava da maldade dela, para não ser mau com os outros.
- Defina "ser mau com os outros" - Pediu o doutor, cruzando os braços.
Eu odiava quando ele me encarava daquela forma. Eu odiava aquelas perguntas e nenhuma solução. O que eu tinha? Ele tinha que me responder! Só me dava remédios, remédios e mais remédios. Quando me acostumava, trocava o medicamento. Quando eu esquecia, me internava e me davam sedativos. Eu queria matá-lo. Mas quem queria morrer era eu. Traguei, traguei, traguei de novo e comecei a chorar.
- Defina "ser mau com os outros" para mim, por favor. - Pediu o doutor, mais uma vez para mim.
- Ser mau com os outros... Culpá-los... - Respondi, antes de limpar o nariz. - Acusá-los de toda a minha desgraça. Esses vermes... Esses sentimentos... Esse amor! Que merda é essa? Eu não preciso disso tudo, doutor. Eu sou normal!
- Ninguém disse que não era. - Respondeu ele, com aquela voz típica de um babaca. - Apenas acho que está tendo outra crise depressiva. Ela te deixou há dois dias e você já quer se matar.
- Ela não me deixou. - Respondi. - Ela só não me perdoou, doutor.
- E qual é o problema então? Ela ainda está com você. - Respondeu ele. 
- Eu também não me perdoei. - Respondi.
Eu precisava tragar mais. Eu queria mais cigarros. Eu queria mais café. Eu queria saber que merda era aquela? Por que passar por tudo isso se ela ainda estava comigo? "Eu te odeio". Ela me ama. "Você não vai mudar". Eu traguei mais uma vez.

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