26 di Kófer di 15 Duo-Marte,
O gato se vai... Nesse começo de noite não há
nenhuma estrela iluminando o céu de Oppos. Como sinto saudades de casa. Como
queria estar ao lado de minha família na Ilha de Bensi, em segurança. Já lhe
disse que não confio muito nas pessoas deste lugar. São brutais! São
agressivos! Nunca vi homens se matarem com tanta facilidade, por tão pouco. Um
punhado de moedas de ouro é tudo o que precisariam
pra arrancar uma cabeça. Povo cruel! Como quero descansar em minha Ilha! Mas
sonhar com minha casa não é o bastante... A guerra acabou na manhã de ontem.
Ganhamos. Eu ainda sinto a dor de cada homem que matei com meu ácido veneno e
os cortes profundos de minhas garrafas. Noto que a vitória não me fez bem. Mas
estou vivo! Seja lá o que isso significa, nesse momento. Eu decidi partir.
Oppos e seus moradores são maldade demais para mim. Onnehera? Só se eu quiser
que me matem. Ouvi dizer que uma discípula de Catherine assumirá o Condado. Que
Óbor me proteja! Estou decidido. Ainda nesta noite, deixarei o Castelo Real de
Oppos. Paguei quinhentas heptas a um guarda e a dois arqueiros da torre para
abrirem os portões nessa madrugada. Irei a pé. Pegarei a estrada do norte em
direção a Virplent, em Sëplenvon. Começarei a viajar pelo mundo. Que Óbor ilumine
meus caminhos e que a Deusa da Terra venha comigo. Não estou sozinho. De alguma
forma, sei que não estou sozinho. Começarei a andar em breve. A Trombeta do
Socorro, a Adaga Curta da Tribo Perdida, minha capa e todo o meu dinheiro são
as únicas coisas que levarei comigo. O resto, será história. O que vier, fará
história. Que meus amigos entendam. Que meus inimigos aceitem. Que Ela... Oh...
Que Ela se lembre de mim quando amanhecer. Está na hora de ir.
Despido do medo, desejando-te uma noite maravilhosa,
— Oromis Melkor, O Forasteiro.
Diplomata da Ilha de Bensi, Meltto da Ilha de
Bensi, Meltto de Sëplenvon, Filho da Luz e Membro das Lágrimas de Óbor.
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di Lusbo di 15 Duo-Marte,
Eu nunca achei que fosse ser fácil, mas esperava
um fim, após uma dificuldade. Não outra. Caminhei pela trilha central que liga
Oppos a Sëplenvon por longos dias, até que me deparei com um acampamento de uma
barraca só. Havia várias fogueiras, muita bagagem e muitos cavalos amarrados e
espalhados pelo lugar, mas apenas uma barraca. Eu, dotado de minha inocência,
aproximei-me para pedir água. Anunciei-me ao chegar
perto e nada aconteceu. Voltei a me anunciar e o silêncio continuou. Eu decidi
entrar, mas não consegui. Ao tocar na lona da barraca, uma flecha curta e de
ponta grossa atravessara meu ombro esquerdo. Havia uma mulher encapuzada atrás
de mim, com uma besta em mãos. Não mais de cinco metros nos separava. O sangue
escorria pela minha capa e meus olhos encararam a mulher. Uma mulher idêntica
surgira do meu lado direito, seguida por outra que ficara do meu lado esquerdo,
também portando bestas, prontas para uso. Uma quarta mulher, idêntica as
demais, surgira atrás de mim. A última, a única que estava com o capuz
abaixado, colocara uma adaga em minha garganta e me chamara de ladrão,
mandando-me ir embora, ou me mataria. Ah! Santo Óbor! Demorei a conseguir
convencer a mulher de que eu era um viajante, não um ladrão. Apresentei-me, e
como tal, ela retribuiu. Seu nome era Eldenin Posjü, Maga do Espírito, viajante
também. Ah, que ela era uma maga do espírito eu descobri após as demais
mulheres sumirem. Clones! Somente a da adaga existia. Senti-me envergonhado em
dizer que abriguei-me com ela naquela noite, visto que ela curara o ferimento
em meu ombro, causado por ela mesma. Partimos ao amanhecer. Ela iria para
Perse, em Jansen, ao norte de Sëplenvon. Arrumei uma companheira de viagem.
Andamos mais alguns dias, agora a cavalo e escoltado por um grupo de mulheres
clones fortemente armadas, até que a areia começou a penetrar na grama e a
grama sumiu. Não havia mais floresta, somente um deserto. Um deserto que era
quente, dia e noite. Passamos fome. Passamos sede. Passamos por magos perdidos,
viajantes, ladrões e até uma criatura que batizei de Halup, um escorpião do
tamanho de um elefante, só que sua cabeça era de galinha e, junto ao ferrão,
havia um rabo de pavão que se abria sempre que ele vinha nos atacar. Era
estranho, mas conseguimos vencê-lo. Guardei algumas penas de sua calda e veneno
de seu ferrão comigo, enquanto Eldenin ficou com os olhos da criatura. Sei que
viajamos por mais alguns dias, até chegarmos em Virplent, a cidade do vidro.
Mas agora é noite. Catherine toma conta dos céus. Eldenin e armamos a barraca
próxima da cidade, mas fora da mesma. Iremos visitá-la ao amanhecer, agora,
precisamos dormir. Ainda sinto sede. Ainda sinto fome. A carne que conseguimos
comprar dos viajantes há alguns dias acabara, assim como a água. Mas há uma
cidade a frente. Tudo melhorará... Só agora vejo que esta barraca é grande o
suficiente para mais uma pessoa. Você. Bem que poderia estar aqui com a gente.
Bem que poderia estar comigo.
Com fome, com sede, com saudade, mas com amor,
— Oromis Melkor, O Forasteiro.
Diplomata da Ilha de Bensi, Meltto da Ilha de
Bensi, Meltto de Sëplenvon, Filho da Luz e Membro das Lágrimas de Óbor.