quinta-feira, março 19, 2015

É pra felicidade deles...

São três e vinte e cinco e o relógio me acorda, mas como sou brasileiro e não desisto nunca, faço ele me esperar por mais cinco minutinhos na minha cama.

Já atrasado, vou para a cozinha e procuro uma jarra com água da rua do dia anterior. Ficamos sem água em casa da “uma da tarde” até dar o horário das crianças acordarem. É essa água que eu uso pra começar a fazer o arroz e o feijão.

Depois de tomar banho com o que sobrou da água da comida, termino de me arrumar. O sapato já está velho e furado, mas precisa aguentar mais dois ou três meses pra eu ter dinheiro pra comprar outro.

Coloco a comida pronta na geladeira nova que comprei. O "friizi" dela não funciona, uso como armarinho dos pratos. Quando as crianças chegarem elas só vão precisar colocar a comida no prato e pedir pra Dona Cecília, minha vizinha, pra esquentar pra eles. Era um microondas ou “o óculos” do Pedro Henrique. Ele é mais importante pra mim.

As quatro e meia eu já estou na rua. Douglas vai passar aqui pra me levar até o terminal. Ele é o motorista. Somos quase irmãos, foi ele quem me arrumou o emprego de cobrador.

Pouco antes das cinco, já estamos no terminal de ônibus.  Tem muita gente lá. Eu cobro a passagem e dou bom dia pra todo mundo. Até já sei o nome de um ou outro. Eles sabem o meu também.

Depois de uma hora e meia, às vezes é duas por causa do trânsito, a gente vai chegando no metrô.
Quando o ônibus para, eu me levanto. Eu olho pra parte de trás e grito: senhores passageiros, tenham um bom dia e um bom serviço, aí o Douglas abre a porta pra eles saírem.

Quase nunca me respondem, mas é legal. Tem dias que alguém me responde e me dá até algumas balas. Eu guardo todas elas e levo pra casa.


Não tem nada melhor que ver o Pedro Henrique e o André Luis sorrindo e me abraçando por causa desses doces. Eles sempre pedem mais e eu continuo sempre com o bom dia. É pra felicidade deles


[ crônica baseada em um diálogo real ]

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