São três e vinte e cinco e o relógio me acorda, mas como sou
brasileiro e não desisto nunca, faço ele me esperar por mais cinco minutinhos
na minha cama.
Já atrasado, vou para a cozinha e procuro uma jarra com água
da rua do dia anterior. Ficamos sem água em casa da “uma da tarde” até dar o
horário das crianças acordarem. É essa água que eu uso pra começar a fazer o
arroz e o feijão.
Depois de tomar banho com o que sobrou da água da comida,
termino de me arrumar. O sapato já está velho e furado, mas precisa aguentar
mais dois ou três meses pra eu ter dinheiro pra comprar outro.
Coloco a comida pronta na geladeira nova que comprei. O
"friizi" dela não funciona, uso como armarinho dos pratos. Quando as
crianças chegarem elas só vão precisar colocar a comida no prato e pedir pra
Dona Cecília, minha vizinha, pra esquentar pra eles. Era um microondas ou “o
óculos” do Pedro Henrique. Ele é mais importante pra mim.
As quatro e meia eu já estou na rua. Douglas vai passar aqui
pra me levar até o terminal. Ele é o motorista. Somos quase irmãos, foi ele
quem me arrumou o emprego de cobrador.
Pouco antes das cinco, já estamos no terminal de
ônibus. Tem muita gente lá. Eu cobro a
passagem e dou bom dia pra todo mundo. Até já sei o nome de um ou outro. Eles
sabem o meu também.
Depois de uma hora e meia, às vezes é duas por causa do
trânsito, a gente vai chegando no metrô.
Quando o ônibus para, eu me levanto. Eu olho pra parte de
trás e grito: senhores passageiros, tenham um bom dia e um bom serviço, aí o
Douglas abre a porta pra eles saírem.
Quase nunca me respondem, mas é legal. Tem dias que alguém
me responde e me dá até algumas balas. Eu guardo todas elas e levo pra casa.
Não tem nada melhor que ver o Pedro Henrique e o André Luis
sorrindo e me abraçando por causa desses doces. Eles sempre pedem mais e eu
continuo sempre com o bom dia. É pra felicidade deles.
[ crônica baseada em um diálogo real ]
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