domingo, janeiro 08, 2017

Amar sem ritmos

Dos poemas mais lindos, sonhados e declarados a ti, entreguei-me ao desespero de buscar asilo em fragmentos de corações que sonharam alto demais. Busquei nos destroços dos sentimentos mais puros e lindos, um auxílio para que meus pedaços não se juntassem ao brilho dos que escureceram e hoje vivem o frio em busca de um remendo que os aqueçam.

Ei de bater no peito e gritar aos ventos do Norte que continuo a escrever o amor que sinto, que continuo a amar-te forte, embora friamente. Pois sei que esse coração forte é muito mais que músculo e gordura acumulada e que aguentará. Ele é um som que gera ritmos para que sorrisos não sejam apenas um brilho momentâneo. Uma memória que esvairá quando os lábios se fecharem em um beijo. E ao lembrar do teu sorriso e do teu beijo, fragmento-me outra vez em uma lúcida e tola declaração de amor.

Não encontrará em meu rosto mais uma lágrima a escorrer, pois não há de olhos sofrerem as dores que o peito já sente e grita. Coração não chora, continua seu batuque, mesmo que lento o dolorido. Continua a te empurrar pra mais um segundo, um instante, um agora, um já vivido, um novo já. E nessa loucura em que mesmo ferido se entrega ao caminho, você aprende que o ritmo do amor é uma dança sem par, mas que ao se juntar com outro ritmo, os pares dançam algo que jamais será explicado e que ninguém há de coreografar. E a beleza se tornará um sonho que ei de sonhar, chorar e guardar.

Esse sofrimento todo e essa falsa escrita é para dizer que a saudade, sombra do coração, também está produzindo seus ritmos. Venenosos como serpentes, mas indançáveis, continuam a atiçar os pés para se manter em uma espécie de ritmo estranho, mas em busca de uma batida e ritmo que agradem e conduzam o coração para voltar ao seu lugar orquestra.

Como aprendido em A Cabana, cada um produz sua própria tristeza com base em seu sonho declinado. Sonhos partidos, corações feridos. Amores acabados. Mas o mal de amar é que mesmo quando o romance encontra o ponto final, os românticos nem sempre aceitam ou estão prontos para encarar que aquele fim é o que eles mereciam, precisavam. Eis que a dor volta e eu já não sei se falo de amor ou de saudade. Ou se continuo a me fragmentar em desespero do que há de vir para dançar comigo no novo ritmo produzido pelo coração.


Encerro-me desta tortura, informando a poeta que ela estava errada. Quando ferida, machucada ou abandonada, o coração não deve e nunca pode simplesmente acreditar que a única coisa a se dizer é que ele não sabe sonhar. Temo acordar, pois é isso que acontece quando o coração para e o ritmo se encerra. Os sonhos continuam sendo a esperança de que o batuque certo foi feito, mesmo que a dança tenha sido ruim para um de nós. Mesmo que hoje não tenhamos mais um nós. 

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