quarta-feira, março 19, 2014

RT 970 – O Último Tiro

Chegado o momento, tirei meu revolver do bolso e realizei meus sete últimos desejos. Minhas últimas sete balas de vinte e dois milímetros seriam esquecidas com o tempo, mas os buracos causados por ela, jamais teriam conserto. Era o fim.


    O primeiro tiro foi contra a Justiça. Cega para alguns, lenta para outros, inexistente aos meus olhos. Com tudo o que pude ver nos últimos anos de minha vida, não consegui observar ou encontrar uma pista se quer dessa Dama tão admirada e esquecida. Se um dia existiu, morta está. Se disserem que ainda existe, não sabem onde. Talvez seja só mais um mito na busca da Ordem, ou somente um colete para quem se diz “Justo” realizar sua vontade íntima e infiel com a Constituição. Para desmascarar essa víbora, dediquei o primeiro tiro a ela.

    Meu segundo disparo foi em direção à Segurança. Pública ou Privada, ambas escorrem pelo esgoto da Ética e Moral e de nada me serviram. Não eram meus alvos principais. Segurança própria é a grande vilã da história, causando todo tipo de barbárie em nome próprio e sem motivo algum, além de elevação do ego. Dizem que todos temos direito a ela, mas não nos permitem usufruir deste direito, pois acaba com a Segurança Nacional. Que se foda! Ela merecia sozinha todos os tiros, mas seria injusto com os demais alvos e me deixaria inseguro.


     O terceiro tiro foi uma lástima. Eu gostei muito dela no começo, mas percebi a falsidade que a mascarava. A Paz, nada mais foi do que uma vilã. Esteve sempre presente, fingindo liberdade, conquista, orgulho e respeito! Repondo tudo que tirávamos da frente com ganância, corrupção, desejo e egoísmo. Eu, sinceramente, pensei em desistir de matá-la, mas me lembrei que há muito a Paz anda doente e em estado terminal. Do que serve um amigo se não para ajudar? Agora a Paz é eterna, seja como for.

     O quarto tiro foi um erro. Ou não. Eu ainda não tenho uma opinião formada sobre isso, mas não podia arriscar. Há muito já não me tratava como antes. Às vezes, por ironia do destino, eu recorria a ela, única e exclusivamente. Quantas vezes me bateste a porta na cara, Amizade? Quantas vezes EU lhe abri a minha? Eu, sinceramente, esperava mais de sua parte. Até o último momento eu acreditava nas suas primeiras palavras. “É pra isso que sirvo”, “Conte comigo”, “Sou todo ouvidos” ou “Confia em mim. Vou te ajudar”. Uma pena terem se transformado em lamentações, ameaças e choro, quando lhe apontei a arma. Mas, tenha fé, levarei pra vida toda suas últimas palavras: “Eu tô aqui, cara. Agora estou aqui”. Agora é tarde.

    Eu tremi demais ao disparar o quinto tiro. Não era arrependimento, era tristeza. Foi muito ruim pra mim seguí-la a vida toda em vão. Eu dormia pensando em você, eu acordava querendo você, eu trabalhava acreditando em você e voltava pra casa na esperança de te ver. Tudo o que eu fiz antes, com exceção dos últimos tiros, foi em prol do seu nome. Mas, Amor, você me traiu! Você não foi sincera. Você se esqueceu da parte “amar e respeitar” e seguiu uma vida de jogo comigo, onde eu sempre perdia. Você foi esperta e se divertiu até o fim. Vou apagar suas últimas palavras da minha memória e gravarei suas primeiras. Afinal, eu as disse antes de atirar e estávamos certo desde o início. Estaríamos juntos, “até que a morte nos separe”.

     O sexto tiro foi por vingança. Ah! Como eu estava querendo me vingar! Eu não sei se a deixei por último para perceber e temer ser a próxima ou se fiz isso para praticar e ter a certeza de que te levaria ao inferno, Esperança. Você foi tudo o que sempre me pediram para ter. Eu tentei! Eu realmente tentei muito! Mas como toda e qualquer vadia, você só queria encher seu bolso com falsas promessas e sonhos que jamais viriam a se realizar. Só que eu também te enganei. Você passou a ser minha principal inimiga nos últimos tempos, mas fiz questão de acreditar completamente e andar com você até seu último momento. O que é mais engraçado nisso, é que ainda resta uma bala e, pobre Esperança, você não foi à última a morrer.

    Estava feito. Faltava apenas um tiro e o velho revolver de guerra de meu pai poderia voltar para sua gaveta onde uma imagem minha faria companhia ao esquecimento. Eu já havia vencido a justiça, garantindo minha própria segurança. Eu havia destronado a paz e feito da amizade e do amor meus escravos. O melhor de tudo foi acabar com a esperança. A minha própria esperança. O sétimo e último tiro era para atravessar a minha cabeça. Pelo menos foi o que eu planejei. Eu queria estragar aquele velório para que cada um que fosse lastimar minha morte, lembrasse de minha imagem sorrindo e não conseguisse acreditar em meus crimes. Melhor ainda seria vê-los se remoerem para entender o que me levou a fazer tal barbaridade. O que eu fiz? Enfiei a arma o mais fundo que podia na boca e fechei os olhos. Uma lágrima escorreu pelo meu sorriso e eu me entreguei ao “Foda-se” que tanto esperava.

BANG


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