Já parou pra pensar na dor que é subir em um palco todos os
dias pra dançar e fazer graça pra uma platéia e somente eles saírem felizes?
Nunca, não é? Posso apostar com você que, até hoje, você sempre esteve nessa
platéia. Quando precisou sorrir, buscou alguém, mas não notou a falta de
sorriso deste que te ajudou.
Eu, por outro lado, estive sempre nos palcos. Eu não sou do
tipo que conto os meus problemas, mas ouço os de todos. Eu não sou do tipo que
busco ajuda, mas minhas mãos carregam e ajudam a erguer todos os que precisarem
de alguém. Todos os que precisarem de mim.
Isso, meu amigo, não quer dizer que eu não preciso de ninguém.
É claro que eu preciso. Isso só quer dizer que eu não tenho ninguém.
Mesmo assim, me levanto todos os dias com um sorriso falso
no rosto, pra arrancar sorrisos verdadeiros de quem precisa parar de derramar
lágrimas.
Eu enxugo suas lágrimas com aqueles lenços coloridos que
amarro um no outro e tiro e guardo em minha boca. Estes lenços são meus
sentimentos. Eu entrego a você tudo que tenho de melhor e você derrama suas lágrimas
nele. Eu guardo esse lenço e seco as lágrimas com o sorriso que some do meu
rosto.
Isso não é um desabafo... É um aviso! É uma verdade que você
não consegue aceitar quando finalmente nota e então, tristemente, esquece. Quando
finalmente nota que há sentimentos ruins em quem te cura, aceita o sorriso
falso deste médico de humor e volta-se aos teus problemas, pois são mais
importantes...
Haverá um dia em que subirei ao palco e meus lenços estarão
todos vermelhos de sangue. O horror nos rostos da platéia não irão me abalar,
pois eu deixarei de falsidade e sorrirei com lágrimas. Quando finalmente eu
puxar o último pedaço de pano de minha boca, nele estará amarrado um pedaço do
meu coração. Meu corpo cairá no palco e o sorriso em meu rosto vai obrigar que
a produção feche a cortina para sempre.
Chamarão isso de suicídio. Irão dizer que eu era louco e
depressivo. No fundo, você saberá que nada disso é verdade. Eu estou pleno de
minhas ciências! Tão pleno, que decretei guerra ao meu peito que não carregava
sentimentos meus, mas dos outros. Meu sistema não entendeu essa revolta e
quando começou a se preocupar com si mesmo, suicidou-se mentalmente e me
obrigou a pedir demissão de você.
Palhaços também choram, mas precisam sorrir. De
hoje em diante, por favor, que o palhaço seja você, meu amigo.